Comparando Sistemas: Gaia RPG, Fabula Ultima e Ryuutama

Olá pessoas!

Em minha última postagem apresentei e resenhei o Fabula Ultima, um sistema focado em emular aquela experiência dos JRPG clássicos, tipo Final Fantasy. Acontece que ele foi fortemente baseado em outro sistema que já falei bastante aqui no blog, o Ryuutama, no qual também me inspirei para criar o meu próprio sistema, o Gaia RPG. Então, o que mais eles tem em comum? E de diferente? É o que eu pretendo discutir hoje.

Objetivos

Antes de iniciar as comparações, porém, preciso deixar claro qual é o foco cada sistema.

O Ryuutama é um RPG de fantasia natural, sendo focado na jornada que as personagens irão vivenciar e na relação intrínseca delas com o mundo. Não à toa que sua principal mecânica é a de jornadas. Outro fator importante e único do sistema é a influência do ryuujin no tipo de narrativa que está sendo construída. Criar e experienciar colaborativamente um mundo fantástico faz parte da essência de se jogar Ryuutama, sendo o cenário e o ryuujin também protagonistas das suas histórias, ao seu próprio modo.

O Fabula Ultima, por outro lado, olha mais profundamente para as personagens, seja nas conexões que elas criarão ao longo de suas aventuras, seja no foco que a história dá ao heroísmo delas e sua progressão. Não à toa há uma maior variação de classes disponíveis e mecânicas como a dos Laços, dos traços da personagem e a maneira como se dá o fluxo de Pontos de Fabula e Ultima e o impacto deles no ganho de Pontos de Experiência. Por mais que ambos os sistemas tragam explicações de como criar mundos colaborativamente, o Fabula Ultima foca na criação das personagens e seus grupos, e o impacto deles no cenário que funciona mais como um plano de fundo.

Já o Gaia RPG possui três pilares mecânicos, sendo os conflitos, as jornadas e a exploração. Suas regras se entrelaçam a fim de permitir ao narrador criar histórias em que as personagens possam enfrentar e superar vários tipos de perigos. O foco aqui é a aventura em si e os seus desafios. O sistema é propositadamente aberto para que possa ser usado nas mais diversas ambientações de fantasia, tentando manter um equilíbrio entre seus três pilares e dando ao narrador as ferramentas necessárias para criar seus jogos. Ao menos foi o que eu tentei fazer. XD

Percebam que cada sistema tem seu foco (jornada x personagens x aventura) e premissas, mesmo que suas bases mecânicas possuam diversas similaridades.

Similaridades

Como já adiantei, tanto o Gaia RPG quanto o Fabula Ultima tem o Ryuutama como inspiração, mas a forma como cada sistema se baseia no seu antecessor é diferente.

Pode-se afirmar que o Fabula Ultima cumpre bem o papel de expandir as regras que o Ryuutama estabeleceu, aprofundando tanto as mecânicas quanto aumentando a quantidade de opções para as personagens (mais classes, mais habilidades, mais magias, mais equipamentos, mais características, etc.). De fato, ele é tão inspirado no Ryuutama que até os atributos usados por ambos os sistemas são os mesmos (variando nomes, mas não suas funções), e o livro faz questão de esclarecer que o autor do sistema japonês foi consultado e aprovou o uso de suas regras desta forma. Todavia, esta expansão teve como custo a simplificação de outras regras, como as das jornadas e a movimentação e distâncias em combate, a fim de emular "melhor" a essência dos JRPG clássicos.

O Gaia RPG, por sua vez, inspira-se em mecânicas muito específicas do Ryuutama, sendo uma delas a regra do Tamanho dos objetos. Ela não é exatamente igual a original, pois eu tentei compatibilizar o valor do Tamanho com o do atributo Força, mas funciona de maneira similar (diferentemente da minha adaptação de Final Fantasy Tactics para D&D 5ª Ed onde basicamente copiei a regra na íntegra, o que fazia sentido considerando que eu também precisava da mecânica opcional de durabilidade). Mas a regra mais importante aplicada no Gaia RPG é toda a mecânica de jornadas. Novamente ela não é exatamente igual, mas foi o elemento central que me inspirou a criar o sistema.

Agora, algo que os três sistemas têm em comum é o fato de que a ancestralidade da personagem (sua raça, espécie, arquétipo... chame do que preferir) não possui influência mecânica no jogo. Isso é importante para dar aos jogadores a possibilidade de descrever suas personagens da maneira como quiserem, tornando o jogo mais inclusivo e evitando induzir a escolha de uma raça em detrimento de outra apenas por causa dos bônus que ela fornece na ficha. Isso foi algo, inclusive, que foi revisado no Gaia RPG após o playtest.

Diferenças

Eu acredito que a diferença mais significativa entre os sistema está na forma como eles abordam as classes. No Ryuutama, têm-se sete classes com três habilidades cada. Mesmo que ainda existam os tipos (types) para serem escolhidos (atacante, técnico e mago), e que seja possível ter uma segunda classe após certo nível, eles não são suficientes para gerar muita variedade entre as personagens.

O Fabula Ultima expande significativamente as opções de classes disponíveis para as personagens, contando com quinze delas com cinco habilidades cada, podendo-se ter bem mais que apenas duas (duas, inclusive, é a quantidade inicial mínima). Isso permite uma variedade quase infinita de personagens ao combinar as habilidades e capacidades únicas de diversas classes.

Quanto ao Gaia RPG, ele não tem classes. Novamente focando na abrangência do sistema (e gosto pessoal também), preferi não criar uma lista com várias classes obrigatórias, mas sim arquétipos opcionais para ajudar aqueles jogadores que ainda não sabem bem com qual personagem desejam jogar. Contudo, é impossível não admitir que muitas Proezas fazem as vezes de habilidades comuns de classes de fantasia, tendo sido uma escolha proposital. Alguns exemplos famosos são as proezas Inimigo (habilidade de ranger / patrulheiro), Sorrateiro (habilidade de ladino) e Treinamento (habilidade de guerreiro), além de todas as proezas mágica, como Paladino e Sacerdote.

Outra diferença está em como cada sistema aborda as características pessoais das personagens. No Ryuutama, toda personagem deve ter um motivo para viajar e um objeto pessoal que lhe é querido, ambos funcionando como elementos narrativos na história, mas sem qualquer função mecânica. No Gaia RPG, a personagem possui um conceito que diz quem ela é e só, cabendo aos seus atos gerar efeitos mecânicos interessantes (na forma de Pontos de Destino). Já o Fabula Ultima vai muito além com os traços, Laços, Pontos de Fabula, Pontos de Ultima e o impacto deles na narrativa e na progressão das personagens.

Por fim, existe um conjunto de mecânicas que são similares entre dois sistemas, mas sendo diferente no outro. Segue alguns exemplos:

  • O Ryuutama e Fabula Ultima usam a soma de dados de atributos para seus testes, enquanto o Gaia RPG usa 2d6 somado a um atributo;
  • O Ryuutama e Fabula Ultima usam moedas para calcular os recursos da personagem, enquanto o Gaia RPG usa um atributo próprio;
  • O Ryuutama e Gaia RPG usam dano fixo para os ataques, enquanto o Fabula Ultima varia o dano conforme a rolagem de ataque;
  • No Fabula Ultima e Gaia RPG as armaduras e escudos modificam o valor de dificuldade que o ofensor deve obter para acertar seu ataque, enquanto no Ryuutama elas geram um valor de redução de dano;

Fechamento

No fim, os três sistemas estão muito alinhados com o meu gosto RPGístico, possuindo muitos pontos em comum, mas com focos bem distintos entre si. Enquanto o Ryuutama foca bastante nas jornadas, ao ponto de ter testes em excesso, o Fabula Ultima aprofunda demais nas personagens, permitindo uma variedade de criação que muitos dos meus amigos adoram num sistema, mas que eu acho um pouco assustador. Já o Gaia RPG, para mim, está num patamar mais equilibrado se comparado aos outros dois, o que me agrada mais quando eu penso em jogos de fantasia medieval "padrões", mas passa longe de ser único em sua proposta (tipo Ryuutama) e nem chega perto em emular os JRPG os quais eu adoro (tipo Fabula Ultima).

Espero que vocês tenham curtido da postagem. Foi uma experiência diferente fazer uma comparação tão direta entre três sistemas que eu gosto muito (um deles que eu mesmo criei!).

Até and Bye...

Comentários

  1. Obrigado pelo comparativo Tio!
    Muitas semelhanças e diferenças, em comum, o estilo JRPG que inspira os 3 jogos.
    Sou fã do Gaia RPG e sabendo de suas inspirações em Ryuutama, fica a dúvida se podemos ver uma versão atualizada com alguma homenagem ao Fabula Ultima?
    Abração

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    1. Olá @danielritta
      Considerando a possibilidade que você levantou, acho que duas coisas seriam interessantes de agregar ao Gaia RPG inspirado no Fabula Ultima. A primeira sem dúvidas seria tentar agregar a ideia por trás dos traços e laços das personagens do Fabula no uso de Determinação e/ou Pontos de Destino do Gaia. Isso permitiria trazer um pouco mais para o foco do Gaia a interpretação das personagens, mas sem alterar muito a sua estrutura atual.

      A segunda ideia poderia ser criar Proezas inspiradas nas classes do Fabula. Algumas, inclusive, eu já cheguei a rascunhar no passado, mas optei em não por na versão final da primeira edição por não ter tido a oportunidade de testar antes (existe um rascunho da proeza alquimista, por exemplo, mas isso demandaria melhorar as regras de itens mágicos e inventar algo na linha de porções e explosivos pro Gaia, o que não tive tempo e inspiração na época para fazê-lo).

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